segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Local de Moradia como Reflexo do Seu Habitante



O Local de Moradia como Reflexo do Seu Habitante

A residência, a partir de uma referência básica de proteção, sustentação e amparo, pode influenciar um processo de significação e identificação pessoal. Cada construção traz impressa as características de seus moradores. A residência é feita à sua imagem e semelhança, é um específico universo particular de cada residente.

Através de seus cômodos, móveis e objetos reunidos, pode-se traduzir valores, crenças, conceitos pessoais. A personalidade se expressa tal qual autobiografia a partir dos momentos, das vivências e histórias cotidianas. É possível olhar ao redor e identificar o que não reflete mais a realidade do momento, o que já está em tempo de mudança.

A expectativa de cada pessoa com sua casa vai além do abrigo e da proteção. A conexão é de tal intimidade que se pode manter um diálogo com ela, ouvindo sobre o que é importante, sobre o que não é possível esquecer ou desconsiderar. A casa pode ser considerada como sagrada a partir de um enfoque de reservatório do essencial, preservando a vida e a história do homem que ali vive.

Num contexto psicológico, é possível associar ao local de moradia significações transpessoais para se efetivar mudanças importantes num processo evolutivo de auto reconhecimento. Atuar na própria residência pode gerar alterações no universo interno, maximizar insights e oportunizar maior conexão com as próprias emoções.

Podemos redescobrir e respeitar a função dos arquétipos presentes em nossa moradia. Segundo Gaston Bachelard, a casa tem um sentido de interioridade, seus andares, porão e sótão podem simbolizar os diversos estados da alma. Igualmente um símbolo feminino no seu aspecto de amparo e proteção maternal, um espaço fechado tal qual o útero e o colo que acolhe a criança na sua ausência de racionalidade.

Thomas Moore, Ph.D., escritor, psicoterapeuta e ex-monge, associa toda residência a um microcosmo representativo de um mundo arquetipal, incorporada de significados psicológicos a partir de uma vinculação via sentimentos amorosos, do seu residente com este verdadeiro espaço de pertencimento.

Robert Sardello, psicoterapeuta e pensador, também evoca aspectos arquetipais da moradia quanto ao desejo do homem de sentir-se em casa no mundo. Muito mais do que um espaço físico, neste local acontece uma atividade da alma. Segundo ele, cada cômodo possui uma estrutura distinta que anima os diferentes aspectos da alma.

James Hillman, psicólogo junguiano, defende a relação dos hábitos dos residentes com suas residências associando a vida interior com os locais de moradia. Ele sugere que problemas psicológicos podem ser consequência do design interior, que a repressão se origina “da falta de alma dos ambientes que habitamos.”

Ao considerar a casa um reflexo da nossa psique, através da representação daquilo que somos, afetando nossa personalidade e todo nosso mundo emocional, ela também pode nos ajudar a compreender com maior profundidade significações psicológicas deste local de pertencimento, seja em associações arquetípicas ou em ressonâncias míticas.

Ao efetivar mudanças, arrumações, organizações neste ambiente, também podemos desencadear um processo de transformação de forma pela qual até então nos conhecemos, podemos oportunizar uma reaproximação com a própria essência, acessar uma totalidade do Ser, integralizando desejos, aspirações, metas, sonhos.

Podemos aguçar o olhar pra as escolhas que fazemos em relação a este espaço de habitação para nos conhecermos um pouco mais. Possivelmente projetamos nossos gostos, preferências, valores na escolha dos objetos, móveis, decoração de nossa casa.

Lucimara Stráda, nov/2012 - www.harmonizare.com.br

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