A residência, a partir de uma referência básica de
proteção, sustentação e amparo, pode influenciar um processo de significação e
identificação pessoal. Cada construção traz impressa as
características de seus moradores. A residência é feita à sua imagem e
semelhança, é um específico universo particular de cada residente.
Através
de seus cômodos, móveis e objetos reunidos, pode-se traduzir valores, crenças,
conceitos pessoais. A personalidade se expressa tal qual autobiografia a partir
dos momentos, das vivências e histórias cotidianas. É possível olhar ao redor e
identificar o que não reflete mais a realidade do momento, o que já está em
tempo de mudança.
A expectativa de cada
pessoa com sua casa vai além do abrigo e da proteção. A conexão é de tal
intimidade que se pode manter um diálogo com ela, ouvindo sobre o que é
importante, sobre o que não é possível esquecer ou desconsiderar. A casa pode
ser considerada como sagrada a partir de um enfoque de reservatório do
essencial, preservando a vida e a história do homem que ali vive.
Num contexto
psicológico, é possível associar ao local de moradia significações transpessoais
para se efetivar mudanças importantes num processo evolutivo de auto
reconhecimento. Atuar na própria residência pode gerar alterações no universo
interno, maximizar insights e oportunizar maior conexão com as próprias
emoções.
Podemos
redescobrir e respeitar a função dos arquétipos presentes em nossa moradia. Segundo
Gaston Bachelard, a casa tem um sentido de interioridade, seus andares,
porão e sótão podem simbolizar os diversos estados da alma. Igualmente um
símbolo feminino no seu aspecto de amparo e proteção maternal, um espaço
fechado tal qual o útero e o colo que acolhe a criança na sua ausência de
racionalidade.
Thomas Moore,
Ph.D.,
escritor, psicoterapeuta e ex-monge, associa toda residência a um microcosmo representativo de um mundo arquetipal,
incorporada de significados psicológicos a partir de uma vinculação via
sentimentos amorosos, do seu residente com este verdadeiro espaço de
pertencimento.
Robert
Sardello, psicoterapeuta e pensador, também evoca aspectos arquetipais da
moradia quanto ao desejo do homem de sentir-se em casa no mundo. Muito mais do
que um espaço físico, neste local acontece uma atividade da alma. Segundo ele,
cada cômodo possui uma estrutura distinta que anima os diferentes aspectos da
alma.
James Hillman, psicólogo junguiano,
defende a relação dos hábitos dos residentes com suas residências associando a
vida interior com os locais de moradia. Ele sugere que problemas psicológicos
podem ser consequência do design interior, que a repressão se origina “da falta
de alma dos ambientes que habitamos.”
Ao considerar a casa um reflexo da nossa psique, através da
representação daquilo que somos, afetando nossa personalidade e todo nosso
mundo emocional, ela também pode nos ajudar a compreender com maior
profundidade significações psicológicas deste local de pertencimento, seja em
associações arquetípicas ou em ressonâncias míticas.
Ao efetivar mudanças, arrumações, organizações neste ambiente, também
podemos desencadear um processo de transformação de forma pela qual até então
nos conhecemos, podemos oportunizar uma reaproximação com a própria essência,
acessar uma totalidade do Ser, integralizando desejos, aspirações, metas,
sonhos.
Podemos aguçar o olhar pra as escolhas que fazemos em relação a este
espaço de habitação para nos conhecermos um pouco mais. Possivelmente
projetamos nossos gostos, preferências, valores na escolha dos objetos, móveis,
decoração de nossa casa.
Lucimara Stráda, nov/2012 - www.harmonizare.com.br
Lucimara Stráda, nov/2012 - www.harmonizare.com.br